(Ilustração: Nelson Santos)
E eis que todos os canais de tevê transmitem o "casamento do século"! O príncipe William e Kate Middleton. Londres em festa! Comentaristas de moda analisam vestidos e chapéus. Um conto de fadas se torna realidade. E dá-lhe túnel do tempo: comparar Kate Middleton com Diana Spencer virou mania. Eu mesmo me peguei acompanhando o início da cerimônia, mas o trabalho me chamou. Ai, essa realidade de suburbano funcionário público...
O que me chama a atenção é que, nos últimos tempos, os canais de tevê andam gastando muitas horas em dissecar tragédias, fatos impactantes. Ainda este ano, já houve a tragédia das chuvas na região serrana do Rio, o terremoto do Japão, o massacre no Realengo: o ibope aumentava de acordo com a contagem de cadáveres. Tragédia dá ibope. De repente, o mundo para um pouco a correria e se detem diante de um casamento.
Há quem torça o nariz para isso e afirme que há coisas mais importantes a serem feitas e pensadas. De fato, há mesmo, mas por que não podemos parar um pouco e sonhar? E por que desprezar o ritual e tudo aquilo que ele evoca?
A modernidade tem sido pródiga em destruir os valores de antanho. Há uma descrença imensa: tornou-se regra decretar o fracasso dos preceitos judaico-cristãos. O politicamente correto paulatinamente retira da vida o humor e a ironia. A liberdade se confunde cada vez mais com a libertinagem.
É nesse contexto que um casamento, (!) celebrado em uma igreja (!!), de um membro da realeza (!!!) com uma plebeia chama a atenção das pessoas. Três instituições tidas como superadas se reúnem e as pessoas param para ver: uns para criticar, outros para aplaudir. Mas a maioria esmagadora celebra junto, mesmo que em silêncio.
Há valores que são intrínsecos à humanidade. Por mais que o modernismo, o marxismo, o psicologismo e um monte de outros ismos venham há anos decretando o fim desses valores, o que fica evidente é que a família, a fé em Deus e a moralidade ainda são os únicos portos seguros em que uma pessoa pode amarrar seu barco, sem o medo de se perder. O que atrai as pessoas das mais diversas formações não é apenas o senso de espetáculo mostrado pelo cerimonial da corte inglesa, mas o fato de que, na família real, muitos enxergam a sua própria família, ou a família que se quer ter, ou a que não se tem.
Nenhum homem é uma ilha, dizia John Donne. O que se celebra, no casamento de William e Kate, é a constatação de que ninguém nasce para ser sozinho: há que se irmanar sempre, na alegria, na dor, na festa, no silêncio.
E é isso o que há de mais bonito em se ser humano.